A relação entre pais e professores está longe de ser harmoniosa. E o
problema não está circunscrito ao Brasil. Em 2011, o professor americano
Ron Clark
publicou um artigo em tom de desabafo no site da rede de TV CNN
intitulado "O que os professores realmente querem dizer aos pais". O
texto se tornou o segundo mais compartilhado no Facebook naquele ano e
encorajou o debate: afinal, por que há tantos conflitos entre família e escola?
A psicóloga australiana Kimberley O'Brien, especialista no tema escola e
família, dá pistas para a solução do problema: "Uma relação saudável
exige tempo e dedicação de pais e professores, mas nem sempre ambos
estão dispostos a fazer esse investimento", diz a especialista, que está
no Brasil para participar do congresso Educar/Educador,
em São Paulo. "Os dois lados, pais e professores, precisam entender que
os esforços têm de ser compartilhados. Com mais trabalho e menos
reclamação, os resultados aparecem." Confira a seguir a entrevista que a
psicóloga concedeu ao site de VEJA.
Afinal, por que a relação família-escola é tão desgastada? Uma
relação saudável exige tempo e dedicação de pais e professores, mas nem
sempre ambos estão dispostos a fazer esse investimento. Muitas vezes,
os pais esperam que a escola estabeleça as vias desse relacionamento,
mas os professores não podem fazer isso sozinhos por falta de tempo e
recursos. Minha experiência profissional mostra o quanto esse impasse
pode gerar stress, fadiga e uma lista interminável de reclamações. Os
dois lados precisam entender que os esforços têm de ser compartilhados.
Com mais trabalho e menos reclamação, os resultados aparecem.
O que a ciência diz sobre a participação da família no processo educacional de crianças e adolescentes?
As pesquisas no campo da psicologia emocional mostram que deve haver
consistência no relacionamento entre escola e família para que a criança
sinta que existe estabilidade nos dois campos. A ligação do estudante
com o ambiente escolar aumenta quando há envolvimento dos pais em
atividades como leitura e deveres de casa em geral. Quando o irmão mais
novo assiste à participação dos pais nas atividades escolares do mais
velho, se sente muito mais seguro de ir para a escola pela primeira vez.
Já os jovens que sentem que seus pais interagem com seus professores
têm menos chances de largar a escola e, assim, ganham motivação.
Quais as consequências quando a relação entre família e escola desanda? Ao
contrário do que se possa imaginar, as crianças e adolescentes detectam
muito rapidamente quando pais e professores entrem em conflito. Se o
jovem sente que sua família não está comprometida com a escola ou com os
docentes, passa a questionar sua dedicação à instituição. Isso afeta
seu desempenho escolar e sua relação com o ambiente escolar.
O que pode ser feito por parte dos pais para evitar situações como essa?
Em primeiro lugar, eu sempre recomendo aos pais muita pesquisa antes de
escolher a escola em que seus filhos vão estudar. Eles precisam estar
bastante seguros de que aquela é a unidade que se enquadra em suas
expectativas. Isso minimiza muito as chances de conflitos ao longo da
vida acadêmica. Se, mesmo assim, as divergências aparecerem, a
orientação é procurar a direção da escola e os professores para uma
conversa franca. Trocar o filho de escola não é recomendado em situações
como essa. Deve ser o último recurso a ser considerado pelos pais.
Como devem agir os professores? É necessário
estabelecer um canal confiável de comunicação. Para isso, é preciso
criar oportunidades de encontro semanais, por exemplo, para oferecer
suporte às famílias. Muitas escolas acham que isso toma muito tempo, mas
os benefícios no longo prazo são comprovados. Outra técnica muito pouco
praticada é dividir tarefas entre os estudantes. Quando o professor dá
para a criança uma responsabilidade, como desligar os computadores da
sala ou zelar pelo material esportivo, isso aumenta o sentimento de
orgulho por parte dos pais e ajuda a aumentar a confiança que a família
deposita na escola.
Melhorar as relações entre família e escola é uma preocupação universal? Certamente.
Em todos os cantos do mundo, os pais tiram seus filhos de casa para
enviá-los à escola. Em alguma medida, esse conflito aparece em todos os
países.
Por VEJA
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